Notícia preocupante no Estadão: "higienização social" não combina com esta gestão

O Jornal Estado de SP publicou hoje (clique aqui ou leia abaixo) uma notícia preocupante, pois remete a praticas que eram comuns nos últimos anos, mas que não deveriam mais ocorrer na atual gestão. Falei na semana passada (clique aqui) do esforço de Fernando Haddad em receber os moradores de rua no Salão Nobre da São Francisco, e de estruturar uma política de atendimento à essa população.

Os procedimentos relatados no artigo - se forem verdadeiros - não condizem com isso. É comum que o poder público confunda, de maneira preconceituosa, "crime, lixo e moradores de rua", como diz o artigo, como se fosse tudo um problema só. A limpeza pública rapidamente serve de disfarce para uma política de "higienização social". Há muitos anos, me envolvi em polêmica pelos jornais, com o então prefeito Serra, justamente em razão da criação de bancos e rampas anti-mendigos.

Naquela ocasião, fiz coro com o Pe. Júlio Lancellotti, que sofria forte perseguição por sua incansável e corajosa luta em defesa dessa população desprezada. Se hoje ele está citado no artigo abaixo, é porque a situação deve ser vista com atenção, pois ele não fala à toa. Uma sociedade que "produz" moradores de rua como a nossa deve, em primeiro lugar, assumir a responsabilidade pelo fato de ser tão injusta, e o primeiro passo para isso, é ter a grandeza de implementar políticas de atendimento e reinserção social, e não reproduzir práticas de intolerância.

A reação "positiva" de alguns moradores da Moóca que o artigo cita, na página do Facebook do Subprefeito não surpreende, infelizmente, em um país que ainda elege gente como o Feliciano. Agora, vamos agora torcer para que a Prefeitura reaja à altura e averigue o ocorrido. A relação entre a atuação da subprefeitura e da PM, que responde a outro comando, pode gerar diferenças de atitude. Porém, é estranho o subprefeito estimular no facebook uma política de atuação para com os moradores de rua que se pauta pela visão simplista de que é "um problema social" e que a solução é apenas a de que "eles devem ser encaminhados aos serviços sociais do Município". A questão é mais séria, e merece uma política diferente, como a que  o prefeito anunciou no ato na Faculdade São Francisco. Porém, ela não pode valer só para os moradores de rua do Centro, mas da cidade toda.

Subprefeitura e PM criam 'tolerância zero' a moradores de rua na zona leste

Operação intensificou processo de limpeza urbana na Mooca e Brás; subprefeito diz que sem-teto devem ser cuidados por serviço social

11 de abril de 2013 | 2h 06

BRUNO PAES MANSO - O Estado de S.Paulo

Barracas nas ruas, colchões sobre as calçadas, fogueirinhas para refeições e moradias provisórias. Nada disso mais é admitido nas ruas da Mooca e do Brás, na zona leste de São Paulo, onde as autoridades declararam "tolerância zero" a crime, lixo e moradores de rua.

O termo foi escolhido pelo capitão Aldrin Córpas, da Polícia Militar, para as operações que passou a fazer em apoio aos trabalhos de limpeza urbana da Subprefeitura da Mooca. Ele ainda postou fotos do "tolerância zero da Mooca" no Facebook, pedindo apoio da população.

A forma como as autoridades estão desempenhando a tarefa, contudo, causou polêmica. Parte dos moradores aplaude o trabalho da Prefeitura e da PM, como mostram as mensagens que Córpas recebeu em sua página pessoal na rede social.

Outros criticam a truculência das operações. O padre Julio Lancellotti, Vigário para o Povo da Rua, também protestou pela maneira como as abordagens estão sendo feitas. Documentos e pertences pessoais são levados, como o de uma moradora de rua que teve levada a bolsa com a última foto que tinha da mãe. "É uma antiga visão higienista da sociedade, que permanece", diz.

Eliana Andreassa, de 37 anos, é uma das moradoras dos arredores do Viaduto Bresser que perdeu documentos nas abordagens municipais.

Ela chegou a São Paulo faz três meses, vinda de Dois Córregos, no interior do Estado. "Eles disseram que era para recolher meus objetos pessoais. Corri, mas não deu tempo de pegar a minha bolsa com meus documentos. Agora, preciso retirar os documentos para ir embora para casa", disse.

'Problema social'. O subprefeito da Mooca, Francisco Carlos Ricardo, afirma que realmente intensificou a operação de limpeza urbana. De acordo com os números da subprefeitura da Mooca, existem 71 vagas fixas em equipamentos para moradores de rua na região. O subprefeito diz que suas operações são de limpeza urbana e que não buscam atingir os moradores de rua. "É um problema social e eles devem ser encaminhados aos serviços sociais do Município", diz o subprefeito, que não sabia que a PM do bairro denominava a operação como tolerância zero.

A PM disse que não iria se manifestar porque agiu em apoio à subprefeitura. O capitão Aldrin também não falou. Depois de procurado, ele retirou de sua página pessoal as informações sobre o tolerância zero.

ATUALIZAÇÃO - A RESPOSTA DO PREFEITO - da página Facebook

EXPRESSÃO USADA POR PM FOI “PONTO FORA DA CURVA”, DIZ HADDAD

Haddad diz que expressão “Tolerância Zero” não pode ser postura de poder público

O prefeito Fernando Haddad comentou nesta sexta-feira (12/04) sobre os procedimentos de abordagem utilizados para a retirada de moradores de rua no bairro da Mooca.

Durante a ação policial, um capitão da Polícia Militar chegou a batizar a operação de “Tolerância Zero” e postou na rede social Facebook.

“O que aconteceu na Mooca foi um ponto fora da curva, em função da declaração de um dos policiais militares envolvidos. 

Imediatamente três secretários, Segurança Urbana, Subprefeituras e Assistência Social fizeram uma reunião com o subprefeito do bairro para nós voltarmos a fazer a política em que nós acreditamos”, afirmou o prefeito.

Haddad reiterou que a frase utilizada pelo policial para denominar a operação foi incorreta. “A expressão ‘tolerância zero’ deve ser evitada porque ela não é a postura do Poder Público no sentido de superar a dificuldade que a população em situação de rua vive na cidade”, reforçou o prefeito.